Escrever é uma forma de expressar o que as vezes nos é privado ou simplesmente o que não nos é permitido falar...

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Amor Verdadeiro

Existem momentos na vida que são únicos, mágicos e muitas vezes particulares, mas chega um ponto que precisam ser divididos de algum modo pra quem sabe serem especiais para alguém que precise de momentos assim. Portanto, acho que chegou à hora de dividir esse momento especial de minha vida.
Em um dia comum sentado em uma praça, não digo desolado, mas sim sem propósito, sem objetivo, sem perspectiva, mas o intrigante era que não conseguia ver o porquê de toda aquela decadência emocional, ou pelo menos não queria ver o porquê daquilo tudo.
Estava um tempo fechando com nuvens carregadas e escuras, nada propicio para um passeio na praça, mas eu estava ali esperando por algo que não vem ao caso, e que não merece entrar em detalhes. De relance não vi ninguém se aproximar, poderia ser pelo simples fato de estar mesmo desligado, ou entretido. Mas foi quando uma senhora de aproximadamente setenta anos pediu para se sentar ao meu lado, mas o intrigante era que todos os outros bancos da praça que estavam em meu campo de visão estavam vazios, mas eu educadamente cedi o lugar a ela.
A senhora se sentou e permaneceu em silencio por um bom tempo depois de um boa tarde caloroso e amigável. Eu por minha vez permaneci cabisbaixo, sem reação, pra mim era apenas uma senhora que estava descansando, e iria rapidamente embora, mas a surpresa veio alguns longos minutos depois com uma voz recomposta pelo descanso, uma voz muito bonita e limpa por sinal pela avançada idade, me perguntou o por quê, de tanta desilusão? Pego de surpresa apenas sorri, a senhora que agora olhava em meus olhos com uma seriedade mesclada com ternura, percebendo que tinha começado pelo ponto errado tentou corrigir, e conseguiu com destreza e simpatia. Perguntou meu nome, de onde era, minha idade, e conseqüentemente a conversa fluiu naturalmente ate voltar à pergunta que ela realmente queria saber, e que de algum modo notou que eu não estava bem de verdade. Meio sem jeito não soube o que responder, pois realmente não sabia, ou pelo menos pensava não saber, ela então fez a pergunta crucial.
__ “Como anda seu namoro?” Tocando com suas mãos pequeninas e enrugadas em minha aliança de compromisso.
Mas uma vez sem jeito mexi com os ombros não dando ênfase a explicação de como estaria o meu namoro, respondendo apenas que tava “levando”, e pelo que percebi aquele gesto com aquela resposta sem empolgação e sem vontade foi o necessário para ela perceber o que estava me deixando angustiado e sem alegria.
Mais uma vez ela tocou a aliança e perguntou: __”Por que você esta com ela?” Olhando com tanta intensidade em meus olhos que me deixava não sem graça, mas com vontade de desabafar, com vontade de contar tudo a ela. Mas como não a conhecia permaneci em silencio respondendo apenas que eu a amava.
Foi então que a senhora pegando em minhas mãos disse mais ou menos assim:

__“ Quando tinha 15 anos de idade meus pais me entregaram a um rapaz de 22 anos, me entregaram, pois o escolheram para ser meu marido, para ser o primeiro e único “amor” de minha vida, irônico não é? Naquela época não escolhíamos nossos amores, eles eram escolhidos pelas nossas famílias, e ai de nós não acatarmos com a escolha.
Rapidamente nos casamos, eu tinha aproximadamente 17 anos de idade, ele era um rapaz alto, bonito, com cabelos lisos sempre bem cortados, ate acho que dei mais sorte que algumas amigas minhas da época, pois ele era mesmo muito bonito!! (Risos). Ele trabalhava na fazenda de seu pai e morávamos no mesmo terreno em uma casinha pequenina e de certo modo aconchegante.
Mas não foi eu a mais privilegiada, não me julgue pelo que sou hoje, pois isso quem fez foi o tempo, todas essa rugas, esse cabelo branco, tudo foi o tempo que me presenteou”.

Indaguei pela palavra “presenteou”, pois em minha concepção ate então ter rugas e cabelos brancos não era uma vantagem. Mas como sempre ela pegou com facilidade minha expressão.

__”Presenteou sim meu filho – continuou ela com carinho – pois temos duas escolhas na vida, morrer jovens com vitalidade e disposição, mas com nenhuma bagagem de vivência, ou envelhecermos, ver seu corpo sofrendo drásticas transformações, perceber dias após dias que nada mais esta como foi um dia, mas notar que a experiência e a importância de sua pessoa para com as outras continua a mesma e em constante aumento a cada dia, você ai sim, vai perceber que isso é o que faz total diferença, ser importante para as outras pessoas, fazer a diferença mesmo com a velhice, ser velho é certeza, é um fato, mas deixar a alma envelhecer a ponto de ficar rabugenta e apenas reclamar de tudo, é opcional. Claro, existem idosos que escolhem outro estilo de vida, pois se você quiser envelhecer apenas para não falecer jovem, e sentar em uma cadeira, muitas das vezes de rodas e esperar a morte lhe beijar, é uma opção, mas a sua essência vai ficar no passado, e seu futuro terá apenas uma certeza, a morte. Portanto viva a vida não apenas em função de sua felicidade, mas também da felicidade alheia, assim você vai estar sendo feliz em dobro, e sua passagem aqui não será em vão.
Continuando (sorriso), eu fazia tudo em casa, era como diziam na época “uma verdadeira mulher prendada”.
Tivemos três filhos, nos mudamos para a cidade, ele conseguiu um emprego muito bom em um banco, e vivemos uma vida muito tranqüila, e de certo modo felizes.
Como lhe disse no começo, escolheram meu amor, e com isso tive que aprender a admirá-lo, e com isso veio o amor. Mas nunca encontrei a felicidade constante e verdadeira.
Não brigávamos, não discutíamos, mas em compensação não tínhamos, como vocês jovens dizem, “química” (risos). Nunca tive paixão por ele, sempre foi apenas a minha única e valida opção.
Em um natal, como todos os outros, resolvemos unir o máximo de membros familiares possíveis, pois meus pais já estavam muito decadentes e não os teríamos por muito tempo mais juntos de nos. Eu tinha quinze anos de matrimonio, minha filha mais velha já era uma mocinha, e me ajudou nas ligações e correspondências.
Por fim conseguimos unir muitas pessoas em uma confraternização muito bonita por sinal, mas faltando algumas horas para a ceia, a campanhia é tocada, como anfitriã da confraternização, fui atender a porta. Abri a porta e me deparei com um homem de altura mediana, com uma senhora muito bonita por sinal ao seu lado, mas meus olhos não deram importância nenhuma a senhora. Meu coração não respeitava minhas vontades, comecei a transpirar, minha mãos ficaram molhadas, minha respiração acelerada, mas em respeito não apenas ao demais convidados e ao meu marido, mas também a minha pessoa que sempre fui de uma índole invejável, me recompus e os convidei a entrar. Era primo de meu marido e sua esposa, que moravam em São Paulo e estavam visitando alguns parentes em Minas, e conseqüentemente estavam na lista de contatos que minha filhinha e eu chamamos.
Com muita dificuldade não deixei meus olhos me traírem, mantive a simpatia de sempre, mas não os deixem cruzarem novamente com aquele homem, pois sabia que eles iriam se perder, portanto não quis decifrar aquilo, e nem sabia, pois nunca tinha sentindo tal emoção, tal sentimento.
A ceia ocorreu como planejamos, todos satisfeitos e felizes, menos eu, pois estava ainda intrigada com a minha falta de postura diante aquele homem. E sem perceber estava eu sozinha na sacada de meu quarto enquanto todos estavam festejando na sala de jantar, foi quando o vi novamente perambulando pela pequena rua de minha casa sem rumo, de um lado para o outro de cabeça baixa e as mãos no paletó do casaco cinza escuro. Estiquei o pescoço pra ver o que se passava com aquele homem por ele estar tão só, foi ai que seu olhar foi lançado a mim como se soubesse que estava olhando na direção dele, tentei desviar o olhar, mas dessa fez ele não me respeitou, e senti novamente as mesmas sensações que tinha sentido antes, porem mais fortes, e não sei por que motivo me senti sendo correspondida pelo olhar do homem ate então estranho. Mas ele se virou e entrou em minha casa, me senti meio ignorada, mas logo acostumei com a idéia, e a achei ate mais viável para situação. Senti meu rosto molhado, mas não tinha certeza se era transpiração ou lagrimas, indaguei transpiração, era menos constrangedor.
Recompus-me e sai de meu quarto, mas dei de frente com ele encostado na parede do corredor com o chapéu do mesmo tom cinza do paletó encostado no peito e de cabeça baixa, pelo menos ate ele lançar “aquele” olhar pra mim, aquele olhar que mudou de vez minha vida, aquele olhar que me fez sair do chão, aquele olhar que me fez transcender, aquele olhar que mudou o sentido que tinha minha vida, foi tão forte que suas mãos veio de encontro ao meu ombro acompanhadas com a pergunta se estava bem, pergunta meio obvia, mas pensei bem, era obvia para mim, ou não!!! Não, essa pergunta não era obvia nem pra mim, pois não sabia se estava bem ou mal. Não consegui responder, pois minha voz não saiu, apenas o olhava, e ele idem. Com alguma dificuldade endireitei-me, e respondi com a voz falha que estava bem, me virei para entrar em meu quarto novamente, quando senti sua grande mão pegar em meu braço, e sua voz, agora mais grave, dizendo para não ir. Não pude deixar de olhar novamente, como não pude deixar de atender ao pedido dele.
Descemos e nos colocamos nos nossos devidos lugares, ele ao lado de sua esposa, e eu ao lado de meu marido. Porem não tinha mais poderes sobre meus olhares, a todo instante encontrava os dele, mas ninguém percebeu, por sorte minha.
Meu marido iria à outra cidade levar alguns convidados que não tinham meio de transporte pelo fato de estar muito tarde, e convidou aquele homem pra continuar em nossa casa com sua esposa, e sem pestanejar ele logo aceitou. Sua esposa foi se deitar em um quarto que preparei para eles, e quando me sentei na varanda de minha casa pra pensar, como fazia em muitas noites onde me faltava carinho e amor, ele aparece na soleira da porta e se senta ao meu lado colocando um pesado casaco em minhas costas, sorri e conseqüentemente, como não iria ser diferente ficamos conversando a noite toda, ai sim aquele homem estranho se tornou um homem conhecido e com algumas historias e olhares, se tornou admirado, e decifrei o que tinha sentido desde o primeiro momento que o vi, mas não podia falar, muito menos expressar, sabia com a maior certeza que já tive em minha vida que me apaixonei por aquele homem assim que meus olhos o encontraram.
Não vi o tempo passar ao lado dele, riamos de historias inusitadas, pois ele era um homem muito bem sucedido e viajava muito a negócios, portanto não lhe faltava historias, mas foi ai que me dei conta de que aquela claridade que invadia a varanda era o amanhecer do dia, e nem me perguntei o porquê meu marido não tinha retornado de sua viagem.
Ele olhou o relógio e pediu que o acompanhasse, fiquei com um pouco de receio mais ele não era mais o desconhecido, portanto me rendi a mais um pedido seu. Ele abriu o portão da frente de minha casa e caminhou a passos lentos para o começo da rua, onde se abria uma clareira dentre as outras casas, pois morava no alto de um morro, ele parou e apontou para o horizonte, me aproximei e vi uma cena mágica, que ao lado dele se tornou única, ao lado de minha própria casa vi o nascer do sol, com cores em tons laranja e amarelo, com o céu ainda um pouco cinza, mas já com o azul de um dia limpo e quente. Ele sorriu e me deu a mão abrindo os braços, olhou pra mim e me pediu para sentir o calor que emanava do nascer do sol, com um sorriso encantado fiz o mesmo gesto que ele, e senti não apenas o calor que emanava do sol, mas também o calor que percorria em meu corpo pelo simples fato de estar segurando na mão dele.
Ficamos por alguns minutos, que me pareceram horas pela satisfação fundida com emoção de estar com ele, quando senti que estava coberta por uma sombra, abri os olhos e vi quem era o dono da sombra, ele estava parado em minha frente olhando em meus olhos, mais uma vez meu coração acelerou descompassado e enlouquecido, hesitei em dizer algo mais seus dedos encontraram meus lábios. E com palavras que se misturaram e demoraram a fazer sentido ele disse que estava apaixonado por mim. Foram as frases mais lindas e sinceras que já tinha ouvido em toda minha vida, pausadas e centradas, objetivas e direcionadas. Disse algumas frases a ele, mas as minhas foram descompassadas e vieram acompanhadas de muitas lagrimas, mas não deixaram de serem objetivas. Por fim ele concluiu com um doce e demorado beijo na testa. Soltou minhas mãos e entrou em minha casa me deixando no calor que a partir daquele dia deu um novo colorido a minha vida.
Depois desse dia nos víamos com freqüência, ele com a família dele se tornaram freqüentes em minha residência, cartões de felicitações chegavam em todas as datas importantes que ele não podia estar presente, aniversários de todos meus filhos ele se lembrava e mandava pequenas lembranças, mas no meu ele vinha pessoalmente e me trazia uma rosa vermelha, solitária e fresca, mas com um sentido estampado em suas pétalas, e por incrível que pareça tivemos mais exatos três pores-do-sol, porem todos em absoluto silêncio, pois sabíamos que as palavras que tinham de ser ditas já estavam lançadas, e se fossem adicionadas a outras poderia estragar uma vida inteira. Se bem que seria uma vida inteira sem felicidade verdadeira, pois ele não estava ao meu lado, mais uma vida inteira digna de uma mãe de família, respeitada e admirada por muitos, incluindo ele.
Passaram-se quinze anos que nos conhecíamos, veio a triste noticia do falecimento de sua esposa, que por sua vez era uma mulher de se admirar também. Com esse fato o fez se aproximar mais ainda de nossa família.
E depois de dois anos do falecimento de sua esposa meu marido começa a sofrer de uma gravíssima doença, ele como amigo presente da família não poupou recursos para curar meu marido. Hospitais particulares, médicos especializados, exames com amostras enviadas ao exterior, e depois de exatamente um ano de luta contra a enfermidade, ela nos venceu e levou meu marido. O luto foi cruel, pois apesar dele não ser meu grande e verdadeiro amor, ele era o homem que conquistou o que de melhor pode para minha família, para os meus filhos, ele foi o homem que como um verdadeiro homem nunca deixou faltar nada a nenhum de nós. E inusitadamente ele continuou ao meu lado por longas três semanas, dando suporte a meus filhos e a mim, como um verdadeiro irmão, mas depois disso se despediu de mim, e disse que eu precisava de tempo, incluindo a confortante frase, “sempre estarei ao seu alcance”, assim foi embora.
Durante um ano voltava mês sim, mês não, trazendo agrados para as crianças e agora duas rosas pra mim, uma vermelha e uma branca, regrando sempre as palavras e partindo novamente.
Mas um dia ele voltou e ficou, e explicou que a rosa vermelha solitária era apenas eu, pois não poderia estar ao meu lado ate que o tempo fizesse sua parte, e Deus nos mostrasse o caminho, e a rosa vermelha junto com a branca, era ele e eu, pois estava longe, mas já estava habitando dentro de mim.
E ai sim, descobri que todos nós temos o verdadeiro amor, que estamos sujeitos a passar anos com pessoas que suprem nossas necessidades momentâneas, mas nunca vão suprir a necessidade completa, aquela necessidade que pedi para sermos felizes sem precedentes, sem barreiras, mas em um dia qualquer esse amor verdadeiro vem nos visitar, e mesmo com nosso coração parcialmente ocupado vamos sentir que ele é o verdadeiro amor, pois ele tem uma força gravitacional, ele é como um imã, e temos que deixar o tempo e Deus fazer a parte deles para nos unir a pessoa que vai nos fazer felizes de verdade, a pessoa que vai colorir ate mesmo os dias mais chuvosos, a pessoa que vai nos arrancar suspiros com olhares.
Por isso não perca tempo com amores passageiros que não te fazem bem, se te fizerem bem, continue, pois mesmo não sendo completo, esta suprindo duas necessidades que todos nós temos, a necessidade de carinho e afeto, mas se tiver pesando e não estiver sendo gratificante não dê murro em ponta de faca, pois esse amor passageiro pode estar atrapalhando seu amor verdadeiro se aproximar de você. E lembre-se amor verdadeiro existe pra todos nós, pois Deus criou o Adão, e logo após a Eva, não nascemos para vivermos sozinhos. Seu amor verdadeiro esta em algum lugar, não procure, ele vai te encontrar.”

Com um beijo carinhoso na testa ela saiu. E me deixou a vivência mais importante que alguém já dividiu comigo. Nunca mais a vi, mas nunca mais vou esquecê-la.



Thiago Simioni

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